domingo, dezembro 03, 2006

A cidade de Isidora

Quando se avista, à beira oceano, um portal que transparece através de si a linha do horizonte, sabe-se que chegou em Isidora, que, ao contrário de outras cidades, não se projeta em dimensão horizontal, tendo o forasteiro que encontrar o exato ângulo no qual percebê-la. É muito comum, na cidade prisioneira das dimensões, sentir-se intercalado por exíguos habitantes que não se enxergam desferindo golpes no ar, atrelados ao não adequamento de seus próprios atos. Da mesma forma, não existe perspectiva em Isidora, sendo que qualquer desvio angular pode acarretar numa mudança parcial ou até mesmo total do que se vê, por isso não é incomum que alguns forasteiros jamais encontrem o caminho de saída ou mesmo que muitos caiam num abismo achando que se estão dirigindo para um primevo campo onde se desenham flores das mais diversas tonalidades. Em Isidora nunca se sabe ao certo quando é dia ou noite e qualquer tentativa de mapeamento das horas acabam perdidas nalgum ângulo que dificilmente se consegue recuperar e, quando, por algum descuido ou ventura, todas as anotações são trazidas de volta por algum olhar esguelho, o tempo já correu de forma incontrolável, de forma que já não se pode mais distingüir o que é noite e o que é dia novamente. Diz a lenda que, de tempos em tempos, Isidora fica completamente visível, em todas as suas nuances, e só aí pode-se perceber, mesmo que num átimo, que a cidade não passa de um emaranhado de pessoas que se perderam no vazio de si mesmas...